terça-feira, 2 de março de 2010

Um lugarzinho especial

O tema gênero vem me rendendo vários problemas...kkk. Toda vez que me coloco em um debate, muitas pessoas me jogam pedras. Por que? Porque acredito, e defendo, que discutir gênero não é discutir a mulher somente, ainda mais somente com mulheres. Ação de mulheres é diferente de debates de mulheres. Os homens devem sim participar destes debates. Afinal de contas, ninguém vai fazer a revolução sozinha. "Ação, senão revolução acaba em moda!" Já diria GOG.

Mas este meu breve desabafo não é o principal motivo deste post. O que quero socializar neste espaço desta vez é que ganhei a tarefa (dificílima) de tratar a questão de gênero para as crianças Sem Terrinha. Me desafiei a fazer o texto, baseando-me em nosso debate coletivo. Falamos de cores, futebol, e diferenças. Tratar as diferenças para, a partir daí, construir nossa igualdade. Somos sim diferentes, mas sempre iguais! Isso mesmo! É claro que para o espaço que temos no Jornal e pelo próprio meio, o texto não se propõe a responder perguntas ou aprofundar debates, mas sim levantar questões que permitam ao educador trabalhar este tema. Inclusive, propomos também que as crianças preparem, com o diálogo do texto, um teatro a ser apresentado na escola, no acampamento, assentamento... Incentivando também os educadores a trabalhar as artes para abordar temas, digamos, mais complexos.

Segue texto. Logo mais coloco o nosso Jornal das Crianças Sem Terrinha em PDF, com as ilustrações e tudo o mais, para quem tiver o interesse.

Um lugarzinho especial

Sob o teto de lona preta, as estrelas não param de brilhar. Dentro do barraco, a luz das velas ilumina o único cômodo. Estela, a mãe, está grávida de cinco meses. Marcos, o filho mais velho, com seis anos, admira a barriga da mãe como se fosse uma lua cheia, enquanto o pai, Mateus, esquenta um café. Em um salto, de repente, pergunta:
M - Mãe, por que papai nunca fica grávido?
Os grilos la foram se manifestam...cri, cri, cri.... Deixando ainda mais forte o silêncio de Estela que olha para o pai.
E – Filho, só a mamãe pode engravidar.
M – Por que?
E – Por que as mulheres têm um lugarzinho especial dentro delas, chamado útero, feito para guardar o bebê. Ele fica lá quentinho e crescendo, ficando forte, até chegar uma hora em que ele está grande demais para caber ali e aí...hora de nascer!
M – Mas se você faz tudo, por que o papai é pai?
E – Os homens colocam uma sementinha em um ovinho que a gente guarda neste lugar especial.
M –Entao nós somos umas plantinhas?? - pergunta quase rindo.
E – Sim, podemos dizer que sim. A mamãe é a terra e o papai o semeador.
M – Gostei! Quando eu for uma árvore grande e forte eu quero ser igual o papai. Trabalha o dia inteiro na roça e volta pra casa com o jantar preparado e tudo na casa limpinho!
E – Mas não é bem assim, querido. Nós dois dividimos as tarefas dentro de casa e fora também. A mamãe também vai pra roça, cuida dos animais, assim como o papai também cozinha e cuida da casa. É claro que não é em todo lugar que isso acontece...
M – Mas mãe, existem muitas diferenças entre vocês dois. Você tem peitos maiores e o papai é mais forte. Na escola também! As meninas vão brincar de casinha enquanto a gente vai jogar bola. E as coisas de menina são rosinha e as de menino são azul...
– Existem diferenças sim, mas as mulheres e os homens podem fazer o que quiserem. As meninas podem jogar futebol também, e vocês, meninos, podem usar outras cores que não azul. Podem usar, rosa, laranja...
M – Humm.... Legal! Então que dizer que mesmo com estas diferenças a gente é igual??
E – Sim. Devemos repeitar as nossas diferenças, respeitar um ao outro, mas não podemos dizer nunca que uma mulher não seja capaz de fazer alguma coisas e nem que o homem não pode cozinhar porque é coisa de mulher....
Marcos volta a admirar a barriga da mãe.
M – Se ela for menina, quero jogar futebol com ela então. Posso mamãe?
E –Claro!
Marcos foi dormir diferente aquela noite. Teve um sonho com muitas cores, bebês e futebol. Jogava em um time com a camisa rosa e ele era o número dez. No dia seguinte, propôs à turma um campeonato misto e ainda disse que a única coisa que ele não poderia fazer era ter bebês quando crescer, pois não tinha aquele tal lugarzinho especial. Depois de alguns meses, sua irmãzinha nasceu, ganhou o nome de Dandara. De qualquer forma, ainda gostava de imaginar o céu pintado de várias cores e as mulheres e homens sempre trabalhando juntos.

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