quarta-feira, 28 de abril de 2010

Mulheres encarceradas

Confiram mais uma matéria minha publicada na Revista Fórum. Antes, havia escrito sobre mulheres de presos e agora abordo o tema mulheres encarceradas. Mesmo com as dificuldades de encontrar pessoas dispostas a falar, e com a missão quase impossível de entrar em algum presídio para conversar melhor com as mulheres onde elas passam este período de suas vidas, encontrei pessoas que quiseram trocar uma idéia.

Meu muito obrigado à Pastoral Carcerária, que realiza um trabalho maravilhoso com estas mulheres que muitas vezes não têm ninguém para visitá-las, à juiza Dra. Kenarik e a minha parceira Camila (nome fictício), que me contou seus dramas e medos na época em que ficou presa com sua mãe.

Espero que gostem. Deixem suas críticas e comentários.

Clique na imagem abaixo e leia a matéria no site da Revista Fórum.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Pedras e palavras neles!!



Há algum tempo fui assistir à peça do grupo de teatro Dolores, Zona Leste de SP, chamada "A Saga do Menino Diamante". Gostei bastante da peça. Quando voltarem a apresentá-la, a divulgo aqui...

Em determinado momento, uma carta é lida. Foi uma carta redigida em junho de 2003, quando mais de 800 trabalhadores Sem Terra marchavam rumo à cidade de São Gabriel, Rio Grande do Sul, que reivindicavam a desapropriação de uma área de 13,2 mil hectares em cinco fazendas do complexo Southal. Todas estas fazendas já haviam sido consideradas improdutivas pelo Incra e, portanto, deveriam ser desapropriadas para a Reforma Agrária.

Mas eis que o tal sujeito elabora uma carta fascista e distribui panfletos em toda a cidade, conclamando uma "reação" aos Sem Terra. 'Sugerindo formas de 'exterminar' estes trabalhadores...

Em um primeiro momento parece não ser possível alguém escrever aquilo. Poderíamos também achar que foi elaborado para representar uma realidade, quase que caricaturalmente. Mas não.

Seis anos depois, um trabalhador foi assassinado em um despejo de parte deste complexo. Eram quase 260 famílias acampadas e existem outras 720 famílias assentadas na região. Eltom Brum da Silva recebeu um tiro nas costas de um policial militar no dia 21 de agosto de 2009.

Leia a carta e veja o absurdo. E isso foi em 2003! Mas o pior é saber que isso seria tão plausível para alguns hoje como foi na época. Ai que raiva!

Isso é pra gente pensar que os inimigos são capazes de tudo. Construíram seus impérios com base na violência, matam, ferem, se articulam... Por isso digo que conciliações podem ser perigosas. Nao há como aceitar a maioria delas. E contra cartas e ações como estas, como diria o grande poeta Leminski: "En la lucha de clases, todas las armas son buenas: piedras, noches, poemas." Pedras e palavras neles!

“Gabrielenses e seus apoiadores dizem não à invasão- Povo de São Gabriel, não permita que sua cidade tão bem conservada nesses anos seja agora maculada pelos pés deformados e sujos da escória humana. São Gabriel, que nunca conviveu com a miséria, terá agora que abrigar o que de pior existe no seio da sociedade. Nós não merecemos que essa massa podre, manipulada por meia dúzia de covardes que se escondem atrás de estrelinhas no peito, venham trazer o roubo, a violência, o estupro, a morte. Estes ratos precisam ser exterminados. Vai doer, mas para as grandes doenças, fortes são os remédios. E preciso correr sangue para mostrarmos a nossa bravura. Se queres a paz, prepara a guerra, só assim daremos exemplo ao mundo que em São Gabriel não há lugar para desocupados. Aqui é lugar de povo ordeiro, trabalhador e produtivo. Nossa cidade é de oportunidades para quem quer produzir e não há oportunidade para bêbados, ralé vagabundos e mendigos de aluguel. Se tu gabrielense amigo, és proprietário de terra ao lado do acampamento, usa qualquer remédio de banhar o gado na água que eles usem para beber, rato envenenado bebe mais água ainda. Se tu, gabrielense amigo, possuis uma arma de caça calibre 22 atira de dentro do carro contra o acampamento, o mais longe possível. A bala atinge o alvo mesmo a 1200 metros de distância. Fim aos ratos. Viva o povo gabrielense!"

segunda-feira, 19 de abril de 2010

O Massacre de Eldorado dos Carajás


Todo mês de abril, o MST se mobiliza em todos os estados com ocupações de latifúndios, órgãos públicos como o Incra, Secretarias de Educação, e outros, para além de reivindicar a realização da Reforma Agrária com o assentamento de famílias Sem Terra acampadas pelo país, para também marcar a data do crime ocorrido em Eldorado dos Carajás, no Pará. O fato ficou conhecido como Massacre de Eldorado dos Carajás e resultou no assassinato de 19 companheiros por policiais militares do estado, que é conhecido como um dos mais violentos quando falamos de luta no campo.

Há quatro anos, eu e uma companheira fomos ao Pará para realizar um especial para rádio que contasse todo o caso e denunciasse a impunidade que completara 10 anos. Falamos com sobreviventes, advogados, Ministério Público e inclusive um grande latifundiário da região, da família Mutran. É claro que neste caso não nos identificamos como Movimento Social, mas ele nos recebeu em sua fábrica de castanhas que estava sendo protegida por policiais militares na entrada.

Foi um enorme aprendizado, conhecemos pessoas maravilhosas e uma realidade bruta. Esta região do sudeste paraense é tomada por pastos de conhecidos coronéis que construíram seu império por meio da violência contra trabalhadores. Para evitar a morte de seu gado, eles matam as castanheiras de suas terras, prática proibida no estado. Para não derrubarem as árvores, eles furam o tronco, colocam óleo e tacam fogo. Os enormes troncos de castanheiras queimadas nos pastos se torna paisagem comum... E uma castanheira não sobrevive sozinha, depende da outra para viver... Por isso, no local dos assassinatos, tem 19 troncos de castanheiras em homenagem aos trabalhadores.

Hoje, a situação dos mandantes do crime acabou não mudando. Dois comandantes (coronel Mário Collares Pantoja e o major José Maria Pereira de Oliveira) foram condenados na pena máxima, mais de 200 anos de prisão, mas a justiça, por meio do Supremo Tribunal Federal concedeu a liberdade enquato recorrem à decisão. E é claro que o então governador Almir Gabriel (ex-PSDB), e o secretário de Segurança, Paulo Sette Câmara não foram sequer julgados. Na época tentamos falar com todos, mas obviamente eles não nos atenderam.

Segue o link da série de reportagens especiais para rádio. Tudo pela www.radioagencianp.com.br.
Confiram. Para quem não quiser ouvir, tem os textos. E no meu flickr também tem algumas fotos da viagem.

Massacre de Eldorado dos Carajás: 10 anos depois.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Entrevista com... Nina Fideles.

Salve, salve!
Eu, tão acostumada a realizar entrevista com os outros, fui convidada pelo parceiro e amigo Alessandro Buzo para dar uma entrevista. Vejam só... que coisa.

Bem, sem mais palavras, pois acho que falei pra caramba nas respostas...

Clique na imagem e confira na íntegra no blog Literatura Periférica.

Foto: Sérgio Vaz

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Manifestoon

Sempre fico imaginando como seria se os intelectuais conseguissem falar de maneira mais simples para as pessoas... Conversar sobre a urbanização, o capitalismo, a exploração, o socialismo, revolução, mais-valia, crise econômica, etc.

Saber usar as palavras não é para qualquer um. A comunicação não é proferir palavras, mas fazer-se entender. Isso é inerente à qualquer ser humano. E digo isso porque acredito que os escritos de grandes teóricos não devem ficar apenas nas prateleiras das universidades ou em poder de poucos, mas devem extrapolar o impresso, os conceitos. Acredito que um bom exemplo disso seja o vídeo abaixo. Ele foi elaborado pelo cineasta independente Jesse Drew e une trechos de o Manifesto Comunista (Engels e Marx) com pedaços de cartoons da Disney. Aliás, o texto do Manifesto Comunista é muito bom e não é tão teórico como O Capital. O nome já diz: Manifesto.

Para o cineasta, "no desenho animado clássico, a força bruta e a artilharia pesada nunca conseguem derrotar a ironia e o humor, e no fim a justiça sempre vence. Para mim, era natural ligar o meu próprio conceito infantil de subversão com uma versão mais articulada.".

O vídeo, infelizmente, está com uma legenda muito ruim e fica muito ruim ler e ver as imagens, que dão ainda mais sentido às palavras.




Dez mil anos depois....

...cá estou para postar uma letra belíssima de Gonzaguinha.


Acho ótimo saber de meus amigos, e de mim, que estamos juntos, firmes e com toda a ternura necessária para se fazer o bem. Não no sentido heróico da palavra, mas O Tudo e Todo que vem com ela. Que o caminhar nos permita desafios e alegrias!

Eu Apenas Queria Que Você Soubesse
Gonzaguinha

Eu apenas queria que você soubesse
Que aquela alegria ainda está comigo
E que a minha ternura não ficou na estrada
Não ficou no tempo presa na poeira

Eu apenas queria que você soubesse
Que esta menina hoje é uma mulher
E que esta mulher é uma menina
Que colheu seu fruto flor do seu carinho

Eu apenas queria dizer a todo mundo que me gosta
Que hoje eu me gosto muito mais
Porque me entendo muito mais também

E que a atitude de recomeçar é todo dia toda hora
É se respeitar na sua força e fé
E se olhar bem fundo até o dedão do pé

Eu apenas queira que você soubesse
Que essa criança brinca nesta roda
E não teme o corte de novas feridas
Pois tem a saúde que aprendeu com a vida

Eu apenas queria que você soubesse
Que aquela alegria ainda está comigo
E que a minha ternura não ficou na estrada
Não ficou no tempo presa na poeira

Eu apenas queria que você soubesse
Que esta menina hoje é uma mulher
E que esta mulher é uma menina
Que colheu seu fruto flor do seu carinho

Eu apenas queria dizer a todo mundo que me gosta
Que hoje eu me gosto muito mais
Porque me entendo muito mais também