terça-feira, 28 de setembro de 2010

Um doce, um olhar, um gesto...


“Um Doce Olhar” é o último de uma trilogia de filmes turcos do mesmo diretor. Na língua nativa, o nome original é Mel (Bal, 2010). Doce igual. Assim como os olhares e gestos. Entendi perfeitamente a tradução.

Como qualquer percepção acostumada (e acomodada) aos filmes de Hollywood (e a todos os que seguem a mesma lógica), assistir este filme causa estranhamento. Aquele estranhamento adorável, instigante e que provoca os novos sentimentos e pensamentos. E que incomoda o suficiente para provocar a paz, a naturalidade das coisas.

É o ritmo do filme um dos principais culpados por esta bela sensação. Lento, assim permite que os menores detalhes saltem à tela e nos apresentem os maiores significados. As falas são poucas e de profunda intensidade. O personagem principal (Yussuf) é um garoto de seis anos, gago, mas que aos sussurros estabelece uma relação belíssima com seu pai, um apicultor, que o ouve como ninguém.

A mãe é a representação da figura que se preocupa com o menino, que passa muito tempo sem dizer uma palavra e o pai, aquele que o entende, mas que ao mesmo tempo, o protege da realidade. E s contrastes... A luz e o escuro traçam um perfil emocional do garoto. Dias belíssimos em um cenário grandioso das montanhas ao norte da Turquia. E nas tomadas internas, a melancolia.

E o copo de leite sobre a mesa do café da manhã. A mãe faz questão que o menino tome. O pai, por muito tempo, bebe escondido, a fim de ‘poupá-lo’. E um dia, como se não pudesse mais fugir de sua realidade e dos desafios que a vida o impõe, o garoto vira o copo de leite em segundos e este simples gesto estabelece uma nova relação com sua mãe... e com o mundo. Assim como tantos outros gestos, que vão marcando seus compromissos com as pessoas e com a vida.

Este filme me provocou. Estou há tempos para colocar no papel o que senti, mas o papel não suporta. Portanto, sugiro que assistam.

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