segunda-feira, 26 de abril de 2010

Pedras e palavras neles!!



Há algum tempo fui assistir à peça do grupo de teatro Dolores, Zona Leste de SP, chamada "A Saga do Menino Diamante". Gostei bastante da peça. Quando voltarem a apresentá-la, a divulgo aqui...

Em determinado momento, uma carta é lida. Foi uma carta redigida em junho de 2003, quando mais de 800 trabalhadores Sem Terra marchavam rumo à cidade de São Gabriel, Rio Grande do Sul, que reivindicavam a desapropriação de uma área de 13,2 mil hectares em cinco fazendas do complexo Southal. Todas estas fazendas já haviam sido consideradas improdutivas pelo Incra e, portanto, deveriam ser desapropriadas para a Reforma Agrária.

Mas eis que o tal sujeito elabora uma carta fascista e distribui panfletos em toda a cidade, conclamando uma "reação" aos Sem Terra. 'Sugerindo formas de 'exterminar' estes trabalhadores...

Em um primeiro momento parece não ser possível alguém escrever aquilo. Poderíamos também achar que foi elaborado para representar uma realidade, quase que caricaturalmente. Mas não.

Seis anos depois, um trabalhador foi assassinado em um despejo de parte deste complexo. Eram quase 260 famílias acampadas e existem outras 720 famílias assentadas na região. Eltom Brum da Silva recebeu um tiro nas costas de um policial militar no dia 21 de agosto de 2009.

Leia a carta e veja o absurdo. E isso foi em 2003! Mas o pior é saber que isso seria tão plausível para alguns hoje como foi na época. Ai que raiva!

Isso é pra gente pensar que os inimigos são capazes de tudo. Construíram seus impérios com base na violência, matam, ferem, se articulam... Por isso digo que conciliações podem ser perigosas. Nao há como aceitar a maioria delas. E contra cartas e ações como estas, como diria o grande poeta Leminski: "En la lucha de clases, todas las armas son buenas: piedras, noches, poemas." Pedras e palavras neles!

“Gabrielenses e seus apoiadores dizem não à invasão- Povo de São Gabriel, não permita que sua cidade tão bem conservada nesses anos seja agora maculada pelos pés deformados e sujos da escória humana. São Gabriel, que nunca conviveu com a miséria, terá agora que abrigar o que de pior existe no seio da sociedade. Nós não merecemos que essa massa podre, manipulada por meia dúzia de covardes que se escondem atrás de estrelinhas no peito, venham trazer o roubo, a violência, o estupro, a morte. Estes ratos precisam ser exterminados. Vai doer, mas para as grandes doenças, fortes são os remédios. E preciso correr sangue para mostrarmos a nossa bravura. Se queres a paz, prepara a guerra, só assim daremos exemplo ao mundo que em São Gabriel não há lugar para desocupados. Aqui é lugar de povo ordeiro, trabalhador e produtivo. Nossa cidade é de oportunidades para quem quer produzir e não há oportunidade para bêbados, ralé vagabundos e mendigos de aluguel. Se tu gabrielense amigo, és proprietário de terra ao lado do acampamento, usa qualquer remédio de banhar o gado na água que eles usem para beber, rato envenenado bebe mais água ainda. Se tu, gabrielense amigo, possuis uma arma de caça calibre 22 atira de dentro do carro contra o acampamento, o mais longe possível. A bala atinge o alvo mesmo a 1200 metros de distância. Fim aos ratos. Viva o povo gabrielense!"

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