segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Na luta fazendo poesia, na poesia fazendo luta.

Hoje me lembrei do grande amigo Charles. Lutador e poeta. Aqui vai uma nota que escrevi e foi publicada no Boletim do Kaos com uma poesia dele ainda em dezembro de 2009. Deliciem-se.
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Quem disse que na luta não se faz poesia? E que na poesia não se luta? Charles Trocate, coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST, sempre encontra um tempo para pôr no papel seus escritos, mesmo em tempos mais acirrados na luta pela terra.

No dia 06 de novembro, ele teve seu mandato de prisão expedido. As acusações são sempre as mesmas... Mas muito nos alegra receber notícias suas em doze de novembro, quando ele enviou mais uma bela poesia.

Charles é paraense. Tem em seu coração e alma a cultura amazonense. Nasceu na beira do rio Apéu, Castanhal e começou a militar muito cedo quando entrou no MST em 1986. Escreveu em 2002 o livro Poemas de Barricada e em 2007 lançou os dois livros de poesias Ato Primavera e Bernardo, poemas de combate! Hoje, com 29 anos não dá trégua. Luta, escreve, ama.


PARA QUEM QUISER...
Se é agosto
A concepção vai torta
Tudo anda avesso e daí?
Quem governa não sabe de mim,
Nem dos camaradas afáveis.
Mas meu amor
É um plano invicto e tem dorso
Beija a outra margem do sol,
É um ato sem nome
[perambulando!
A vida não é apenas isso.
Mas o que fazer se a política endoideceu as palavras
Não sabe nada de coisas passadas.
O que torno dizer
É indivisível
Não pode ser paradoxal
A geografia de tudo não cabe
[no coração.
Se me escapo
O riso é de pura aventura
O fio da razão seqüela ainda mais a imperfeição,
O que fazer?
Entre o fervo
E a palavra toda aflição
Que a lucidez implora.
Não há consenso
A pedra é pedra e fura o desespero
É inútil tanto palácio!
Meu silêncio tem um estômago
Confronta sem amizade,
Seu equilíbrio
É música que danço sem
[fim!
Nessa distância
Só posso me inventar.
O medo tem sua estratégia
Arrogante se joga no ar!
Aqui entre as rugas do poder
Só há destinos tímidos
Fantasmas letrados?
Pelas ruas de mim
Não passará o hipócrita!
O cuscuz das horas beira a
[intimidade
Resmunga
Um sabor de tão futuro,
O que querem vocês com os muros?
Se o mundo é pequeno saio de dentro dele, e daí?
A luta como meio
O poema como fim!
A carícia é apenas slogan.
Em todos os cantos
O cartaz do passado devora e etc...
E o olhar deixou de ser
A fronteira da dor.
Quem quer essas rimas, quase infames?
Só peço, meu sobrenome
Não é panfleto
Seu uso é apenas da classe.
Quem é mesmo esse obeso Hiroshi?
A fala não entende nada de mim
O superficial já esgotou-se
Tem bolso
O delírio que se faz assim?
Entendam, o mapa quer outro mapa.
Mesmo uma felicidade!
E os lobos, mil estepes
Como não quer o covarde.
Como sangra
O presente e seus bajuladores!
A ordem, sinto muito...
Ficará sem meu amém!
A luta como meio
O poema como fim!
A carícia é apenas slogan.
Charles Trocate
Novembro de 2.009
De algum lugar desse país, de notícia de jornal.

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